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Num provocante vestido vermelho: Eliana-Parvati!

Publicado em Diário de viagem
Nasik, 17/02/1975 (a)


Dormi tranquilo.

O quarto aconchegante, a cama confortável, o estômago agradecido, o corpo relaxado, a gostosa sensação de ter cumprido uma aventura.

Era como se tivesse dado uma boa "trepada" o que, aliás, foi exatamente o que aconteceu ontem. De fato, dei uma boa trepada em Brahmagiri!

Talvez tenha sido por isso que acordei com a imagem da Eliana, minha esposa, sentada no sofá de nossa casa, meio estirada, e metida num provocante vestido vermelho. Eliana-Parvati! A estória dos ciúmes entre Ganga e Parvati no alto de Brahmagiri, tinham-me excitado muito. Imagino que por isso, em sonho, tenha tomado as dores de Shiva, ou melhor, os prazeres...

Deixei-me afundar, então, no Eterno Macio, na Infinita Fofura, no Grande Carinho, na recepção desmedida. A ilimitada – ilusória, mas quase irresistível – promessa de toda mulher à todo homem: maciez, desobstáculo, receptáculo, torpor. O macio abraço, a macia cama, o macio corpo, as coxas macias, os seios, a macia boca, as palavras macias, o ventre, o cálice, o vinho, a embriagues, a pulsação do sangue, o calor do sangue vermelho a nos aquecer novamente, sempre novamente.

A Deusa do Porto a receber em seus braços, de volta, sempre de volta, seus fiéis marinheiros que se afastaram por um momento, curiosos por escalar montanhas... e as do espírito.


Obs.: este artigo foi publicado na revista Rubedo

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