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Lua à deriva

Publicado em Poemas
Niterói, 1971


Caso os homens se explodam todos em nome da humanidade,
que arqueólogos do futuro saberão dos asteróides entre Vênus e Marte?

Que os homens fiquem atentos!
Talvez em tempos de amor, além das Plêiades
haja um pálido triste e misterioso astro fugindo da luz de um velho Sol,
mensageiro mudo e involuntário de antigo e lendário mundo...
Lá em outro cosmo e gravidades, outro tempo e dimensões,
outras lendas e galáxia,
em meio a estranhas ciências, outros povos saberão captar mensagens.
Os arqueólogos de um futuro mais claro saberão, por certo
compreender toda a história das alunagens.

As frases de ouro serão decifradas, que em letras
não mais se atrapalharão aqueles seres acima de humanos.
Longe de nossos sons e ruídos restarão os claros sinais, e haverá
a perfeita visão dos sábios
sobre estes dias de agora, então os da mais alta antiguidade,
e os rumos trágicos
daquela gente que veio in peace for all mankind.

Que os homens fiquem atentos!
É possível, além das Plêiades, que haja amor em outros tempos.

E que em pleno espaço negro sideral uma esfera irrevogada gire solta,
livre demais nas trevas do Sem-Apoio Absoluto, um satélite banal
mas sem planeta,um corpo frio, pedra nua, envergonhada,
abandonada e louca, derivando na noite que há entre as estrelas
sem seu campo materno gravitacional
e irritada por não ter braços, mãos e garras
pra arrancar da pele e com raiva o mentiroso inseto de metal!

Que os homens fiquem atentos, e já envergonhados também!
Talvez sejamos hipócritas por todos os séculos dos séculos além...

Para a eterna vergonha dos homens (se os tempos não forem de amor),
é possível que os arqueólogos do futuro deixem o astro enlouquecido
atravessar, qual um museu, todo o espaço-tempo do universo
levando na testa, de modo inocente,
gravado a frio, ferro e ouro o fato definitivo,
a prova derradeira
da impiedosa mentira de uma humanidade inteira.


Obs.: este poema foi publicado na revista Rubedo

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