Páginas

O espantalho

Publicado em Poemas
Nova Friburgo, 1968


Vim revogar versos errados e resumir as frases,
cultivar a Nova Ciência
que envolverá desde até os confins do Universo
e, em verdade, cansado rodo em torno apenas de mim mesmo.
Em meio às bússolas, diante da Porta,
debaixo mesmo das setas que apontam todos os caminhos.

Vim, através do fogo e da fumaça
desfazer os focos do inferno
mas vejo que os homens se foram todos,
afastaram-se todos e não me ouviram,
fugiram todos
como fogem todos de mim os passarinhos.

Subi aos picos do mundo em busca dos homens
e eis que durante a subida
escaparam à noite por entre os meus dedos.
Posso tirar das árvores ninhos e mais ninhos
mas que me adiantam palhas, velhas folhas e secas
se fogem todos de mim os passarinhos?

Tento abraçar montanhas? Corro atrás de horizontes?
Luto uma carne frágil frente a um minério frio, inerte e inconsequente?

Eu berro a plenos pulmões e de punhos cerrados
a minha revolta!
Onde estão os que me convidaram?
Por que no endereço certo a casa vazia?
De onde esses ventos velozes e furiosos perturbam
os lagos tranquilos do meu ser?
Quem me arrastou um cego desfiladeiro acima?
para encontrar no alto de um monte... apenas céu e horizontes?

Muito pobre, em verdade, é o poeta
se desmanchando em lágrimas sobre as rochas, preenchendo
P E D R A S.

Talvez não baste à sabedoria dos homens estar sobre os picos do mundo.


Obs.: este poema foi publicado na revista Rubedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário